O desmatamento no Brasil apresentou uma expressiva redução em 2024, consolidando uma tendência de queda pelo segundo ano consecutivo. De acordo com o mais recente relatório da Rede MapBiomas, o país registrou uma diminuição de 32,4% na área desmatada em relação a 2023. Essa queda representa um avanço significativo na preservação ambiental, com destaque para a Amazônia Legal, que ainda assim concentra grande parte da vegetação suprimida. A diminuição é reflexo de políticas de fiscalização mais rígidas e ações coordenadas entre órgãos públicos, ONGs e instituições científicas. Mesmo com a redução geral, o cerrado permanece como o bioma mais afetado, chamando atenção para os desafios específicos enfrentados por essa região.
Apesar da queda no desmatamento total, o cerrado continua como o principal foco de perda de vegetação nativa. Em 2024, o bioma respondeu por 52,5% de toda a área desmatada no Brasil, totalizando mais de 652 mil hectares. A região do Matopiba, formada por partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, concentrou 75% da devastação no cerrado. Esses números colocam o cerrado no centro do debate ambiental brasileiro, pois além de abrigar grande biodiversidade, é fundamental para o equilíbrio hídrico nacional. A pressão do agronegócio na região continua sendo o principal vetor da devastação, mesmo com uma queda de 40% nos índices em relação ao ano anterior.
No panorama estadual, o Maranhão lidera como o estado que mais desmatou em 2024, sendo responsável por 17,6% da perda total de vegetação no país. Em seguida, aparecem os estados do Pará, Tocantins, Piauí e Bahia, compondo juntos mais de 65% da área desmatada nacionalmente. Esse agrupamento de estados está diretamente ligado à expansão da agropecuária, especialmente nas regiões do cerrado e da Amazônia. O destaque negativo do Maranhão, mesmo com redução de 34,3% em comparação a 2023, evidencia a necessidade de ações mais efetivas e fiscalização constante para conter o avanço da destruição ambiental.
A Amazônia teve uma redução significativa no desmatamento, mas ainda responde por 30,4% do total desmatado no Brasil. Em 2024, foram mais de 377 mil hectares perdidos, o que consolida o bioma como o segundo mais afetado. Um dado alarmante é que, mesmo com a queda no número de alertas de grandes áreas desmatadas, a floresta amazônica perdeu cerca de sete árvores por segundo ao longo do ano. A devastação na Amazônia tem implicações diretas no ciclo das chuvas, na biodiversidade e na estabilidade climática do continente sul-americano, o que torna sua proteção ainda mais urgente e estratégica.
Outros biomas também enfrentaram perdas importantes em 2024. A caatinga foi o terceiro bioma mais desmatado do país, com 174 mil hectares de vegetação nativa suprimidos. Um único imóvel rural no Piauí concentrou o maior desmatamento individual registrado no ano, com uma taxa de seis hectares por hora. Já os biomas do Pantanal, pampa e mata atlântica responderam por apenas 3,1% do desmatamento total, sendo o pampa o menos afetado, com menos de mil hectares perdidos. No entanto, eventos climáticos extremos como as enchentes no Rio Grande do Sul influenciaram os resultados da mata atlântica, impedindo uma queda mais significativa no desmatamento dessa região.
O desmatamento no Brasil segue sendo impulsionado majoritariamente pela agropecuária, que respondeu por mais de 97% da perda de vegetação nativa nos últimos seis anos. A extração ilegal de madeira, a mineração e a expansão urbana também exercem pressão sobre os biomas, embora com menor participação. O cerrado, por exemplo, foi responsável por 45% da área desmatada por expansão urbana em 2024, enquanto a Amazônia concentrou 99% do desmatamento causado pelo garimpo. A vulnerabilidade legal do cerrado, onde o Código Florestal exige a preservação de apenas 20% das propriedades, permite o avanço contínuo da agricultura em áreas que deveriam estar sob proteção.
As consequências do desmatamento no Brasil vão muito além da perda de biodiversidade. A remoção da vegetação compromete o ciclo da água, intensifica o aquecimento global e prejudica a produtividade agrícola. A queima de florestas para a formação de pastos e monoculturas interfere na formação dos chamados rios voadores, que levam umidade da Amazônia para outras regiões do país. Isso provoca desequilíbrios no regime de chuvas e contribui para secas prolongadas, enchentes, erosão e diminuição do volume dos rios. O impacto é ainda mais preocupante quando se considera que grande parte da água que abastece o Pantanal, por exemplo, depende do equilíbrio entre a Amazônia e o cerrado.
A redução do desmatamento no Brasil em 2024 é um sinal positivo, mas não pode ser vista como um ponto de chegada. A concentração da destruição em biomas como o cerrado e a caatinga revela que as ações de preservação ainda são muito desiguais e precisam ser fortalecidas regionalmente. O monitoramento contínuo, o fortalecimento de políticas públicas e o incentivo a práticas agrícolas sustentáveis são fundamentais para garantir que a queda no desmatamento se mantenha nos próximos anos. O Brasil possui uma das maiores biodiversidades do planeta e deve assumir a liderança global na proteção do meio ambiente, especialmente em um momento decisivo de crise climática e discussões internacionais como a COP30.
Autor: Yakhya Masaev